sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Sem corrupção, o brasileiro poderia ser até 27% mais rico



Dinheiro perdido poderia impulsionar atividade produtiva e gerar empregos
Por Queila Ariadne
Propina, mensalão, superfaturamento, dinheiro na meia ou na cueca. Tudo isso faz o Brasil perder, por ano, entre R$ 41,5 bilhões e R$ 69,1 bilhões, segundo estudo do departamento de competitividade e tecnologia (Decomtec) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Numa escala de zero a 10 feita pela ONG Transparência Internacional - pela qual quanto menor a pontuação, maior é o índice de corrupção - o país tem 3,7 pontos. Se tivesse a mesma pontuação das nações menos corruptas (7,45), o brasileiro poderia ser 15,5% mais rico.O levantamento mostra que, hoje, cada brasileiro recebe em média R$ 14,47 mil por ano, e passaria a receber R$ 16,71 mil, ou seja, 4,4 salários mínimos a mais. Se a corrupção não existisse, o aumento da renda per capita (R$ 18.388) seria de 27%, o equivalente a quase oito salários mínimos a mais."Se o nível de corrupção no país diminuísse, mais recursos seriam liberados para as atividades produtivas, o que poderia gerar mais empregos, mais infraestrutura e um maior crescimento econômico, o que se traduz em ganhos de competitividade", afirma o diretor do Decomtec, José Ricardo Roriz.Na opinião do professor da área de administração pública do Ibmec, Miguel Augusto Barbosa Dianese, a produtividade é totalmente afetada, uma vez que os recursos desviados deixam de ser aplicados em melhorias para a população. Simulações feitas pela Fiesp mostram que, com os R$ 69,1 bilhões perdidos com a corrupção, o governo poderia ampliar o número de alunos matriculados na rede pública em 47%, ou elevar a quantidade de leitos para internação do SUS em 89%.Dianese destaca que, quanto maior o índice de corrupção, pior fica a imagem do país no mercado internacional e menor será a captação de investimentos estrangeiros. De acordo com ele, uma das soluções para reduzir a ação de corruptos é acabar com a prática da carta-convite. Por esse modelo, em vez de realizar uma licitação, o governo tem a opção de convidar três empresas a apresentarem propostas para o serviço a ser contratado."É o gestor que escolhe quem convidar. Se fosse pelo processo de licitação, com a publicação de editais em jornais de grande circulação, a competitividade seria maior e seria mais fácil evitar favorecimentos", avalia.

Destaques
Veja quem ganhou e perdeu lugares no ranking, em relação a 2009:Cingapura: 3º para o 1º
Hong Kong: manteve o 2º
EUA: do 1º para o 3º
Suíça: manteve o 4º
Austrália: do 7º para o 5º
Suécia: manteve o 6º
Canadá: do 8º para 7º
Taiwan: do 23º para o 8º
Noruega: 11º para o 9º
Malásia: 18º para o 10º
Índia: 30º para o 31º
Brasil: do 40º para o 38º
Fonte: FDC

Ranking mundial

País é o 38º mais competitivo

Depois da turbulência causada pela crise econômica mundial, o Brasil está mais competitivo e subiu duas posições no ranking de Competitividade Mundial 2010, desenvolvido pelo International Institute for Management Development (IMD) em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC). Entre 58 países, o Brasil saltou da 40ª para a 38ª posição.O professor da FDC Carlos Arruda, responsável pela captação e avaliação dos dados brasileiros, explica que o Brasil manteve a sua capacidade competitiva alavancada principalmente pelos avanços na produtividade empresarial e na geração do emprego, apesar de ter tido um declínio no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009.A classificação é baseada em pesquisas com 331 indicadores quantitativos e qualitativos, agrupados em quatro fatores de competitividade – desenvolvimento econômico, eficiência governamental, eficiência de negócios e infraestrutura.O Brasil ganhou três posições no pilar “eficiência dos negócios”, passando para o 24º lugar. Na área de infraestrutura, perdeu três posições, voltando para o 49º lugar; na área de saúde, também três posições, ocupando o 40º lugar; e, na área de educação, duas posições, em 53º lugar. (QA)

Fonte: O Tempo - MG

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

De suecos, representação e sacanagem

Por Wander Antunes

Houve um tempo em que a Suécia foi, ao menos para mim, sinônimo de sacanagem.
Ah, aquelas suas revistinhas maravilhosas tornaram minha adolescência muito mais feliz. Bom, a juventude passou, minhas revistinhas de sacanagem ficaram em algum lugar do passado e a Suécia deixou de ter qualquer relevo em minha vida. Voltou à cena num outro dia, falo disso mais adiante, a me mostrar que o eixo da sacanagem mudou: ao menos em se tratando de representação, a bandalheira agora corre por nossa conta, que eles não são disso não. E foi justamente por conta desse meu reencontro com a Suécia que me vi pensando na gente, no Brasil, no quanto mimamos nossos representantes e em como esse mimo todo, esse poder todo, têm feito mais mal do que bem – para nós, bem entendido. Outro dia li que um senador brasileiro tem algo em torno de oitenta funcionários orbitando em torno dele – deveria ter uns dez ou doze, mas com o jeitinho chega aos tais oitenta, um pouco mais ou um pouco menos. Mais do que um representante, criamos um grande empregador. Precisa de tanta gente? Não sei quantos funcionários têm um deputado ou um vereador, mas estou seguro que também não são poucos. E não tem a ver somente com o número de funcionários, parece que todo o desenho da administração pública é muito concentrador de poder nas mãos dos políticos. Poder de empregar e, se quiser, de silenciar e corromper também. Eles realmente precisam desse poder todo? Dá para exercer de maneira eficiente a representação que lhes outorgamos sem todo esse aparato – sabe Deus quantos funcionários, casa, comida, roupa lavada e muita grana - à sua disposição? Nossos representantes, meio que resumindo a ópera, fazem leis, propõe e executam políticas públicas, representam e defendem os interesses de suas comunidades e etcétera e etcétera. Dá para cumprir tais obrigações com menos poder em mãos? De quanto poder a menos? Não sei. De qualquer modo, há países em que a representação não é tão mimada como a brasileira e mesmo assim a coisa parece funcionar muito bem. A Suécia,olha ela aí, leva jeito de ser um desses países. Quem for ao You Tube  assistir as reportagens sobre o exercício da representação por lá ficará de queixo caído com a vida de deputados e vereadores naquele país. Não é que seja uma vida dura, mas é completamente destituída de mordomias. Como o cenário deles não é de caos, fico imaginando que o fato de seus representantes não terem poder de empregar meio mundo, não terem cotas de passagens aéreas e nem receber grandes salários - lá os deputados recebem duas vezes o salário de um professor -, nada disso parece ter afastado gente competente da vida pública. Ao menos para quem olha a coisa de longe, a impressão que passa é que eles têm dado conta do recado. O fato de serem uma das sociedades mais igualitárias do mundo, se não a mais!, deve ter alguma relação com o bom exercício da política. Não sou desses brasileiros que olham para o primeiro mundo e ficam babando e achando que eles são o máximo e que temos que ser como eles ou algo assim, mas estou certo de que os suecos têm algo a nos dizer. Eles não entendem apenas de revistinhas de sacanagem, também são muito bons em matéria de representação pública. O pouco que vi me deixou excitado... ops!... encantado, perdão! Não estou dizendo que os políticos deles sejam mais santos que os nossos, estou dizendo que o modelo deles, baseado na transparência e no extremo rigor parece aproximar da vida pública aqueles que realmente querem servir ao seu povo e ao seu país. A política por lá parece uma atividade levada bem mais à sério que por estas bandas. Diria que, ao menos em matéria de representação, eles não querem nada com a sacanagem. Perderam a mão, se é que você me entende.

Ah, ia me esquecendo! A vida dos políticos suecos, no Youtube: http://www.youtube.com/v/0n3fQDAfJmM&fs=1&source=uds&autoplay=1

Wander Antunes é roteirista de histórias em quadrinhos

Por que os brasileiros não reagem?


  Quando de sua publicação, em o Globo de 11 de julho de 2011, o artigo do espanhol Juan Arias, correspondente do jornal espanhol EL PAÍS no Brasil, provocou inúmeras reações, desde concordâncias até respostas iradas. O bom, relendo o artigo agora, é perceber que o Brasil descrito ainda há pouco por Arias não segue tão igual. Ao menos, não me parece que o Nem sequer os jovens, trabalhadores ou estudantes, manifestaram até agora a mínima reação ante a corrupção daqueles que os governam” ainda se aguente, o país está, ainda que lentamente, indo pras ruas, protestando, reagindo.


Por Juan Arias

O fato de que em apenas seis meses de governo a presidente Dilma Rousseff tenha tido que afastar dois ministros importantes, herdados do gabinete de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva (o da Casa Civil da Presidência, Antonio Palocci – uma espécie de primeiro-ministro – e o dos Transportes, Alfredo Nascimento), ambos caídos sob os escombros da corrupção política, tem feito sociólogos se perguntarem por que neste país, onde a impunidade dos políticos corruptos chegou a criar uma verdadeira cultura de que “todos são ladrões” e que “ninguém vai para a prisão”, não existe o fenômeno, hoje em moda no mundo, do movimento dos indignados.

Será que os brasileiros não sabem reagir à hipocrisia e à falta de ética de muitos dos que os governam? Não lhes importa que tantos políticos que os representam no governo, no Congresso, nos estados ou nos municípios sejam descarados salteadores do erário público? É o que se perguntam não poucos analistas e blogueiros políticos.
Nem sequer os jovens, trabalhadores ou estudantes, manifestaram até agora a mínima reação ante a corrupção daqueles que os governam.
Curiosamente, a mais irritada diante do saque às arcas do Estado parece ser a presidente Rousseff, que tem mostrado publicamente seu desgosto pelo “descontrole” atual em áreas do seu governo e tirou literalmente – diz-se que a purga ainda não acabou – dois ministros-chave, com o agravante de que eram herdados do seu antecessor, o popular ex-presidente Lula, que teria pedido que os mantivesse no seu governo.
A imprensa brasileira sugere que Rousseff começou – e o preço que terá que pagar será elevado – a se desfazer de uma certa “herança maldita” de hábitos de corrupção que vêm do passado. E as pessoas das ruas, por que não fazem eco ressuscitando também aqui o movimento dos indignados? Por que não se mobilizam as redes sociais?
O Brasil, que, motivado pela chamada marcha das Diretas Já (uma campanha política levada a cabo durante os anos 1984 e 1985, na qual se reivindicava o direito de eleger o presidente do país pelo voto direto), se lançou nas ruas contra a ditadura militar para pedir eleições, símbolo da democracia, e também o fez para obrigar o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a deixar a Presidência da República, por causa das acusações de corrupção que pesavam sobre ele, hoje está mudo ante a corrupção.
As únicas causas capazes de levar às ruas até dois milhões de pessoas são a dos homossexuais, a dos seguidores das igrejas evangélicas na celebração a Jesus e a dos que pedem a liberalização da maconha.
Será que os jovens, especialmente, não têm motivos para exigir um Brasil não só mais rico a cada dia ou, pelo menos, menos pobre, mais desenvolvido, com maior força internacional, mas também um Brasil menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo, menos desigual, onde um vereador não ganhe até dez vezes mais que um professor e um deputado cem vezes mais, ou onde um cidadão comum depois de 30 anos de trabalho se aposente com 650 reais (300 euros) e um funcionário público com até 30 mil reais (13 mil euros).
O Brasil será em breve a sexta potência econômica do mundo, mas segue atrás na desigualdade social, na defesa dos direitos humanos, onde a mulher ainda não tem o direito de abortar, o desemprego das pessoas de cor é de até 20%, frente a 6% dos brancos, e a polícia é uma das que mais matam no mundo.
Há quem atribua a apatia dos jovens em ser protagonistas de uma renovação ética no país ao fato de que uma propaganda bem articulada os teria convencido de que o Brasil é hoje invejado por meio mundo, e o é em outros aspectos. E que a retirada da pobreza de 30 milhões de cidadãos lhes teria feito acreditar que tudo vai bem, sem entender que um cidadão de classe média europeia equivale ainda hoje a um brasileiro rico.
Outros atribuem o fato à tese de que os brasileiros são gente pacífica, pouco dada aos protestos, que gostam de viver felizes com o muito ou o pouco que têm e que trabalham para viver em vez de viver para trabalhar.
Tudo isso também é certo, mas não explica que num mundo globalizado – onde hoje se conhece instantaneamente tudo o que ocorre no planeta, começando pelos movimentos de protesto de milhões de jovens que pedem democracia ou a acusam de estar degenerada – os brasileiros não lutem para que o país, além de enriquecer, seja também mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.
Este Brasil, com o qual os honestos sonham deixar como herança a seus filhos e que – também é certo – é ainda um país onde sua gente não perdeu o gosto de desfrutar o que possui, seria um lugar ainda melhor se surgisse um movimento de indignados capaz de limpá-lo das escórias de corrupção que abraçam hoje todas as esferas do poder.
* Juan Arias é correspondente do do jornal espanhol EL PAÍS no Brasil