quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

De suecos, representação e sacanagem

Por Wander Antunes

Houve um tempo em que a Suécia foi, ao menos para mim, sinônimo de sacanagem.
Ah, aquelas suas revistinhas maravilhosas tornaram minha adolescência muito mais feliz. Bom, a juventude passou, minhas revistinhas de sacanagem ficaram em algum lugar do passado e a Suécia deixou de ter qualquer relevo em minha vida. Voltou à cena num outro dia, falo disso mais adiante, a me mostrar que o eixo da sacanagem mudou: ao menos em se tratando de representação, a bandalheira agora corre por nossa conta, que eles não são disso não. E foi justamente por conta desse meu reencontro com a Suécia que me vi pensando na gente, no Brasil, no quanto mimamos nossos representantes e em como esse mimo todo, esse poder todo, têm feito mais mal do que bem – para nós, bem entendido. Outro dia li que um senador brasileiro tem algo em torno de oitenta funcionários orbitando em torno dele – deveria ter uns dez ou doze, mas com o jeitinho chega aos tais oitenta, um pouco mais ou um pouco menos. Mais do que um representante, criamos um grande empregador. Precisa de tanta gente? Não sei quantos funcionários têm um deputado ou um vereador, mas estou seguro que também não são poucos. E não tem a ver somente com o número de funcionários, parece que todo o desenho da administração pública é muito concentrador de poder nas mãos dos políticos. Poder de empregar e, se quiser, de silenciar e corromper também. Eles realmente precisam desse poder todo? Dá para exercer de maneira eficiente a representação que lhes outorgamos sem todo esse aparato – sabe Deus quantos funcionários, casa, comida, roupa lavada e muita grana - à sua disposição? Nossos representantes, meio que resumindo a ópera, fazem leis, propõe e executam políticas públicas, representam e defendem os interesses de suas comunidades e etcétera e etcétera. Dá para cumprir tais obrigações com menos poder em mãos? De quanto poder a menos? Não sei. De qualquer modo, há países em que a representação não é tão mimada como a brasileira e mesmo assim a coisa parece funcionar muito bem. A Suécia,olha ela aí, leva jeito de ser um desses países. Quem for ao You Tube  assistir as reportagens sobre o exercício da representação por lá ficará de queixo caído com a vida de deputados e vereadores naquele país. Não é que seja uma vida dura, mas é completamente destituída de mordomias. Como o cenário deles não é de caos, fico imaginando que o fato de seus representantes não terem poder de empregar meio mundo, não terem cotas de passagens aéreas e nem receber grandes salários - lá os deputados recebem duas vezes o salário de um professor -, nada disso parece ter afastado gente competente da vida pública. Ao menos para quem olha a coisa de longe, a impressão que passa é que eles têm dado conta do recado. O fato de serem uma das sociedades mais igualitárias do mundo, se não a mais!, deve ter alguma relação com o bom exercício da política. Não sou desses brasileiros que olham para o primeiro mundo e ficam babando e achando que eles são o máximo e que temos que ser como eles ou algo assim, mas estou certo de que os suecos têm algo a nos dizer. Eles não entendem apenas de revistinhas de sacanagem, também são muito bons em matéria de representação pública. O pouco que vi me deixou excitado... ops!... encantado, perdão! Não estou dizendo que os políticos deles sejam mais santos que os nossos, estou dizendo que o modelo deles, baseado na transparência e no extremo rigor parece aproximar da vida pública aqueles que realmente querem servir ao seu povo e ao seu país. A política por lá parece uma atividade levada bem mais à sério que por estas bandas. Diria que, ao menos em matéria de representação, eles não querem nada com a sacanagem. Perderam a mão, se é que você me entende.

Ah, ia me esquecendo! A vida dos políticos suecos, no Youtube: http://www.youtube.com/v/0n3fQDAfJmM&fs=1&source=uds&autoplay=1

Wander Antunes é roteirista de histórias em quadrinhos

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